quinta-feira, 28 de abril de 2011

Vai dar Samba com Bira do Kô e Edson Marques

Prezados leitores,
Fui convidado junto com o amigo Bira do Kaô, á escrever para blog do Didi sobre o carnaval. Pretendo seguir mais para o lado da pesquisa e deixar as notícias do carnaval de Cabo Frio para o amigo, já que o mesmo é um grande ícone do carnaval da cidade, mas não deixarei de dar algumas idéias a respeito.
Nesse primeiro artigo, fui buscar junto aos meus arquivos um texto de um grande pesquisador e amigo de infância que, na minha visão, não poderia ser melhor para iniciarmos nossas postagens.
Espero que os artigos aqui publicados colaborem no sentido de entendermos melhor a grandeza dessa “alma encantadora” que fez a “força opressora” se curvar para passar que é o SAMBA.
Seu Edson


As Embaixadas do Samba: uma tradição revivida
                                                        Jacir Roberto Guimarães
Festa de Nossa Senhora do Rosário, a Padroeira dos Negros.
Aquarela de Joham Moritz Rugendas

    Os tempos eram duros com a população escrava e forra do Brasil colonial. Arrancados de sua terra natal e atirados num país estranho e submetidos ao trabalho forçado, os negros lutavam para manter sua dignidade. Uma destas formas de luta, uma das poucas por sinal, eram as organizações religiosas (irmandades, confrarias, devoções), que lhes permitiam organizar-se para auxílio mútuo.
A maioria dessas organizações agrupava membros de mesma nação na África. Assim, os minas, rebolos, cabindas, gêges, quiloas e outros povos africanos constituíam irmandades entre si para melhor resistir à crueldade da escravidão. Os portugueses, não sabendo distinguir a origem de cada povo, tratavam a todos por "congos".
A primeira de todas essas necessidades eram a construção de igrejas e capelas onde pudessem enterrar seus mortos com dignidade. Naquela época, os senhores de escravos, para fugir das despesas com enterros e missas dos seus cativos, simplesmente mandavam que fossem atirados em qualquer lugar os cadáveres dos escravos. As irmandades também serviam para coletar dinheiro para comprar a liberdade de seus membros, organizar suas festas e se organizar politicamente coroando seus reis.

  Rei, rainha, princesa e mestre-sala, membros da Irmandade de N. S. do Rosário,
recolhem donativos dos escravos (Jean B. Debret)

   Da mesma forma que não reconheciam os santos católicos que ornavam seus templos, usando as imagens para camuflar o culto dos orixás, os escravos também não reconheciam o poder constituído (reis, vice-reis, governadores etc.), elegendo eles próprios seus reis, a quem obedeciam e a quem dedicavam seus esforços para comprar a alforria. As cerimônias de coroação aconteciam nas festas de N.S. do Rosário, no Ciclo do Natal, quando os escravos tinham os dias livres para realizar suas festividades. Como soberano de uma nação, o rei coroado recebia os cumprimentos de membros de outras nações africanas da cidade, as Embaixadas.

   Em todo o Brasil hoje ainda existem as festas de coroação dos reis negros, que ficaram sendo conhecidas como Congadas, que permanecem sendo realizadas no Ciclo do Natal, a exemplo das Festas de Congos do Espírito Santo, Goiás, Maranhão, etc. Em comum, mantiveram os cargos herdados dessas cortes de reis africanos: rei, rainha, princesas, porta-estandarte, mestre-sala (empregado da casa real que nas recepções do paço e noutros atos solenes dirigia o cerimonial; mestre-de-cerimônias) etc.  As exceções quanto à data são Pernambuco (Maracatu), Bahia (Afoxé) e em alguns outros lugares onde a coroação do rei negro (ou rainha) se dá no Carnaval. O outro lugar onde a festa foi transferida do Ciclo do Natal para o Carnaval é o Rio de Janeiro, cuja história nos interessa mais de perto.

Rei e rainha do Maracatu no Brasil colonial
Rei e rainha do Maracatu nos dias atuais


A chegada da Corte portuguesa e a transferência da festa para o Carnaval
Como em todo o Brasil, as festas de coroação dos reis africanos eram feitas no Ciclo do Natal. Mas, em 1808, a família real portuguesa e sua corte se transferiram para o Brasil, fugindo das tropas de Napoleão que invadira Portugal. O Brasil passava a ser a capital do reino e os membros da corte se queixavam ao rei D. João VI que não ficava bem que ajuntamentos de milhares de negros fossem vistos por estrangeiros que para aqui vieram. As festas foram proibidas pela polícia, mas os escravos e forros buscaram meios de driblar essa proibição realizando-as longe dos olhos da nobreza (na igreja da Penha, por exemplo) ou, aproveitando a confusão natural dos dias de folia, fazendo a festa no centro do Rio de Janeiro no Carnaval.

Com o fim da escravidão, as irmandades de negros perdem sua influência

Após o 13 de maio de 1888 e a proclamação da república, as irmandades de negros perdem um pouco de sua razão de existência. Já não havia tantos soberanos africanos a serem homenageados e as condições de vida evoluíram, mas a tradição se manteve. Durante muito tempo os cortejos foram realizados no Carnaval e o hábito se firmou. As antigas nações se transformaram em cucumbis, cordões, depois em ranchos, blocos e escolas de samba e mantiveram muito das antigas tradições do Brasil colonial, entre elas a fraterna visita que as nações (hoje blocos carnavalescos e escolas de samba) fazem entre si nas ocasiões solenes ou festivas: as Embaixadas.

Um forte abraço, até semana que vem
Edson Marques

Um comentário: